Entrevista: Maria Ester de Araujo
29 de março de 2011Há quinze anos Maria Ester de Araujo com a idéia e ajuda de alguns amigos formavam juntos, aqui em Teresina, uma comunidade terapêutica chamada Amor Exigente. Um modelo já existente em diversos pontos do país, com o intuito de reeducar pais, professores, crianças, familiares de dependentes químicos e alcoolismo. Sua intenção é promover o autoconhecimento, o entendimento nos relacionamentos, a convivência com problemas sérios elevando a auto-estima e promovendo assim qualidade de vida de uma sociedade tão carente atualmente de atenção, carinho, afeto e generosidade.
D. Ester é professora de Letras da UFPI, aposentada, mas que encontra tempo para tudo o que gosta de fazer, inclusive assistir filmes, atividade que adora. Tempo esse que conseguimos em meio de viagens, aulas para seminaristas, palestras, ioga, pilates, ministério de eucaristia e da Escola da Fé, leitura de livros, para um rápido bate-papo com a intenção de conhecermos melhor sua vida e esse trabalho tão exigente de determinação, força e disposição feito com tanto amor. Confiram a seguir:
Portal Otorrinos – O que é o Amor Exigente?
Maria Ester de Araujo – É uma ONG existente a 27 anos no Brasil inteiro e agora também fora do país, recentemente foram abertos centros na Argentina e Uruguai. Existe para orientar as famílias, sem uma orientação religiosa e sim comportamental, reeducando hábitos, pensamentos, uma maior abertura para cada um se entender melhor e entender todos que os rodeiam. Procura-se entender as raízes culturais de todos os que procuram ajuda, para assim começar a entender que o problema envolve a todos e não só em uma pessoa.
– Como é feita a ajuda às famílias na prática?
O Amor Exigente se destina a fazer uma reeducação para os pais, professores, jovens, crianças, aborda toda a família. Agora, de modo especial, nós trabalhamos com as famílias dos dependentes químicos e de alcoolistas. O Amor Exigente nos ajuda no autoconhecimento, nos relacionamentos, marido-mulher, pais-filhos, trabalho, a cada um de nós. Agora, o problema mais grave nós focamos elevando a auto estima das famílias que costumam ficar mais doentes do que os próprios. Nos baseamos em 12 princípios, cada semana voltando a um tema específico. Trazemos pessoas de fora para palestra e as reuniões acontecem uma vez por semana e tem duração de duas horas.
- Quando um membro da família cede aos vícios das drogas, afeta toda a família. Como proceder?
No tempo em que começamos juntos com a única unidade terapêutica que ajudava dependentes na época, a Fazenda da Paz, focamos os familiares. Acontece que se a gente trabalha só o dependente, quando ele volta ele recai, pois a família também esta doente e a chance de cair nos mesmos erros é muito grande. E costumam achar q o problema é apenas do dependente. Se o filho ou marido entrou naquela vida, já é conseqüência de alguma coisa, então é importante de nos conhecermos. A pessoa vai pela primeira vez e responde que o dependente é o filho. Dizem: eu bebo nos finais de semana e minha mulher fuma, mas só meu filho usa droga”, pode isso?
– Sabemos da grande dificuldade em resgatar as pessoas desse mundo de vícios, quais os principais meios? Como mudar?
Nós temos nas reuniões vários momentos, o coordenador divide os participantes em vários grupos, estudamos textos, etc. Os novos participantes são escutados individualmente no início, questionamos e não orientamos em um primeiro momento. Devem contar o problema por inteiro. Só então em um segundo momento começamos o trabalho de orientação, com o caso estudado, com o contato com outros participantes que têm problemas parecidos, e a terapia em grupo de fato começa a acontecer.
- É grande a diferença de número de pessoas que conseguem sair do vício e as que não conseguem?
A maior parte das pessoas que nos procuram, vão um mês, dois, no máximo e somem. Pois buscam soluções imediatas. Quando a família procura um grupo de apoio como a gente esse problema já ocorre a dois ou três anos, a dor é muito grande, mas fazem de conta que é uma fase, que vai passar…e acabam chegando com o problema sério muito arraigado. Ainda existe muito por aqui de a família deixar o filho morrer de overdose, mas não aparecem em um grupo de apoio porque acham que ali estão se misturando. Pois nós temos pessoas de todas as classes. O interessante é que o que vejo é que o maior consumo de drogas esta na classe média e alta, pois é quem pode comprar.
- Quem quer ser voluntário como deve proceder?
Deve nos procurar, temos uma literatura completa do Amor Exigente, começa assistindo às reuniões, existem cursos realizados em Campinas com treinamentos anuais, existe muito material de preparação para conseguir desempenhar as funções requeridas no grupo. É um trabalho muito sistematizado.
- O que lhe levou a escolher esse trabalho?
Assim que me aposentei, era professora de Letras da UFPI, eu já pensava em desenvolver algum trabalho voluntário. Dizia: eu não vou ficar parada nem todo o tempo em sala de aula. Quando um amigo chegou com essa proposta de abrir uma unidade terapêutica, pois ele já conhecia o grupo em outros estados. Eu topei na hora e pronto. A idéia foi do Sr. Ribamar, Miiltar reformado, então fui em Campinas fazer o primeiro curso, estudar para trabalhar aqui. Isso foi a 15 anos, completos agora em março. Fui coordenadora do Amor Exigente regional Piauí/Maranhão por muitos anos, hoje a atual coordenadora chama-se Francisca Ribeiro, ela que dirige atualmente o grupo.
- E o que faz no tempo livre, quando não esta dando aula ou no Amor Exigente?
Faço Pilates e Ioga para cuidar do físico, como atividade física. Adoro teatro, mas é uma pena que não temos muitas peças em cartaz por aqui. Gosto de assistir filmes e gosto muito de ler. Dou aula também como voluntária para seminaristas, estou como Ministra da Eucaristia – um título por 4 anos, e faço parte do grupo Escola da Fé, pois sou católica e me envolvo com todos esses trabalhos, preparo direitinho minhas aulas, planejo tudo.
Música: ouço muito MPB
Filme: um recente muito bom que assisti foi o Amar, Comer e Rezar
Livro: Médico de homens e de almas (esse fecho a porta para ninguém me atrapalhar a leitura)
Sonho: Ver a nossa sociedade sem drogas e sem corrupção
Melhor remédio para todo os males: Fé em Deus
Serviço:
Amor Exigente
Matriz – Centro Pastoral Paulo VI
Av. Frei Serafim (na saída da Ponte Jucelino Kubichek) – Toda quarta-feira – das 19 às 21h
Mocambinho
Todo sábado das 16 às 18h
Faculdade Santo Agostinho
Toda quinta-feira das 19 às 21h
Vermelha
Centro Pastoral
Segunda-feira – 19 às 21h
Cristo Rei
Grupo de crianças e pré-adolescentes (Prevenção)
Contatos:
(86)3234-1867 | (86)8819-6078 – [email protected]