Procedimentos e novidades para resguardar a audição
27 de janeiro de 2012Enquanto você lê este texto, não deixa de estar atento aos sons ao seu redor. O telefone pode tocar, alguém chamar seu nome… No entanto, para 5 milhões de brasileiros, ouvir não é uma tarefa tão simples assim. Esse é o número de indivíduos que sofrem de algum grau de surdez no país. As causas mais comuns do distúrbio são a exposição ao excesso de barulho e a perda auditiva relacionada ao avançar da idade, mais conhecida entre os médicos como presbiacusia. “A partir dos 50 anos, já começamos a perder a audição. E viver em grandes cidades pode até antecipar esse processo”, afirma o otorrinolaringologista Ricardo Ferreira Bento, do Departamento de Otorrinolaringologia da Universidade de São Paulo.
“Quando outras pessoas comentam que você anda desatento ou aumentando demais o volume da TV, está na hora de procurar um médico”, alerta Bento. É possível que ele recomende o uso do famoso aparelho auditivo, mas não é só isso. Com boas-novas vindas de centros de pesquisa e tecnologia, quem sofre com o problema está perto de escutar cada vez mais. E melhor. Veja nas páginas a seguir.
Músicos escutam melhor
Os adolescentes levam bronca por ouvir suas bandas favoritas em volume alto demais. Com razão, já que os decibéis dos fones de ouvido quase sempre estão muito acima do recomendado. Por outro lado, tocar instrumentos pode ajudar quando a maturidade chega. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo instituto baycrest’s rotman, no Canadá. ao comparar músicos com pessoas que não tocavam nada, todos na extensa faixa etária de 18 a 91 anos, os cientistas viram que os instrumentistas tinham uma capacidade especial de compensar a perda auditiva relacionada à idade. “Um músico de 70 anos consegue ouvir uma conversa em uma sala barulhenta melhor do que um homem de 50. essa diferença acontece no cérebro, já que o ouvido envelhece do mesmo modo nos dois grupos”, explica o pesquisador benjamin zendel, líder do trabalho. É importante ressaltar que não basta entender de música e ouvi-la. “é preciso aprender um instrumento. daí a audição interage com as funções cognitivas cerebrais”, esclarece. esse estímulo constante deixaria a massa cinzenta treinada para quando o ouvido não der mais conta do recado. “mas, se o volume estiver muito alto, os danos então serão maiores do que os efeitos positivos das melodias”, completa zendel.
Até debaixo d’água
Na hora de praticar esportes aquáticos ou que provocam muito suor, quem tem deficiência auditiva quase sempre precisa tirar o aparelho para garantir que nenhum líquido danifique seu funcionamento. Um novo dispositivo, recém-lançado pela Siemens, promete mudar a situação. Revestido de uma película siliconada, ele age como o tímpano, membrana que protege o ouvido: deixa as vibrações sonoras passarem, mas barra a entrada de água. Para que o equipamento cumpra sua tarefa a contento enquanto o usuário nada ou mergulha, é necessário subir à superfície a cada 15 minutos, já que a bateria precisa de ar para ser recarregada. O fabricante também comercializa uma espécie de clipe que garante que o aparelho se fixe na orelha durante a prática de atividades mais intensas.
Controle remoto individual
A tecnologia bluetooth é conhecida por facilitar a transferência de arquivos de um celular para outro, mas não é só isso. Agora, ela também evita situações comuns na vida de quem não escuta muito bem. Por exemplo, obrigar a família inteira a ouvir a TV no volume máximo. A empresa Telex Soluções Auditivas acaba de inserir no mercado brasileiro um dispositivo importado chamado Connectline. É uma espécie de controle remoto sincronizado ao aparelho auditivo e pode ser conectado com até cinco equipamentos diferentes ao mesmo tempo. A engenhoca permite aumentar o volume do televisor só para quem a estiver utilizando e atender o telefone fixo sem sair da poltrona. “Ela pode ser usada por pessoas que têm perda auditiva de leve a profunda”, garante a fonoaudióloga Patrícia Leiva, consultora da empresa. Outro acessório do Connectline é um microfone, do qual o usuário pode se valer caso esteja assistindo a uma palestra.
Turbine a audição em casa
A cóclea, uma estrutura em formato de caracol que fica localizada no ouvido, é a responsável por transformar as vibrações sonoras em sinais elétricos que são transmitidos para os neurônios. Quem faz esse trabalho são as células ciliadas, que ficam lá dentro. Elas têm fios que lembram os nossos cílios, daí o nome. E, quando são danificadas, causam a perda auditiva na maioria dos casos. Para barrar essa degeneração, a empresa Earlogic lançou um software chamado Hearing Guardian. Desenvolvido na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, o programa pode ser baixado em praticamente qualquer computador. “Por meio de um teste feito com fones de ouvido, ele detecta as frequências que a pessoa não escuta mais e libera estímulos sonoros que auxiliam na recuperação dessa parte da audição. Se as células ciliadas não estiverem mortas, é possível recuperá-las”, afirma o pesquisador Sang Yeop Kwak, especialista em fisiologia auditiva e Ceo da earlogic. Segundo ele, o uso do Hearing Guardian pode devolver em até 10 decibéis a audição, o que melhora a capacidade de ouvir sons mais agudos. No entanto, o software não substitui o médico. “É como tomar vitaminas diárias, um complemento ao tratamento convencional”, finaliza Kwak.
Na sala de aula
Na escola, as crianças deficientes auditivas enfrentam problemas para acompanhar o ritmo da turma. “o educador precisa falar devagar para que a leitura dos lábios funcione como um apoio ao aparelho auditivo”, explica a fonoaudióloga Patrícia leiva. o Fm amigo, apetrecho importado pela Telex Soluções Auditivas, facilita a vida escolar dos pequenos. Por meio de ondas de rádio, o aluno recebe diretamente em seu aparelho o que é dito durante a aula. Para isso, o professor precisa usar um microfone que fica acoplado à sua roupa. Assim, o menino ou a menina não perdem nada do que é falado, mesmo se o docente estiver virado para a lousa. mas claro: quando a surdez é na infância, é fundamental que um fonoaudiólogo fique envolvido no tratamento. “Ele garante que a fala não seja prejudicada”, finaliza Patrícia.
Fonte: Revista Saúde