Entrevista: Pires de Sabóia
14 de dezembro de 2012Nascido há 67 anos na Fazenda Santa Cruz – município de Independência - Ceará, Francisco Pires de Sabóia é comunicador há 47 anos, tendo começado em 1965 no jornal “O Nordeste” e posteriormente na Radio Assunção Cearense, ainda no mesmo ano. Foi aprovado no vestibular de Direito da Universidade Federal do Piauí em 1968, mas não concluiu o curso pois na época já era jornalista conseguindo o registro definitivo no Ministério do Trabalho via Decreto 972, de 1969. E, como queria ser jornalista profissional, abandonou o curso de Direito para se dedicar totalmente à profissão. Resolveu vir para o Piauí em 1967, quando se encontrava nos Diários Associados do Ceará e a empresa estava a caminho da falência, o que realmente aconteceu.
Trabalha atualmente uma média de sete a oito horas diárias, de segunda a sexta-feira e o restante do tempo ocupa geralmente com leitura e um bom papo com amigos. Sua paixão pelo jornalismo começou ainda muito cedo, visitando redações e chegou a trabalhar, durante alguns meses no setor administrativo da Tribuna do Ceará, o que serviu para aumentar ainda mais seu interesse pela informação. Como militante de política estudantil, nos anos 60, estreitou ainda mais estes laços com a comunicação e acabou dentro de uma redação, ainda no primeiro ano científico, hoje ensino médio.
É com esse gigante comunicador que tivemos este enriquecedor bate-papo:
1 – Como foi o seu início de carreira jornalística? Lembra de alguma matéria importante que lhe marcou nessa época? FPS - O inicio na carreira deu-se como uma consequência da militância na política estudantil, dentro da Casa do Estudante do Ceará, onde morava também o jornalista Joaquim Monteiro, que vendo meus textos no jornalzinho O Vigilante, um mural interno da instituição, convidou-me, na qualidade de colaboraador com a coluna Vida Sindical, que mantinha no jornal O Nordeste. Não demorou muito, o mesmo jornal convidou-me para revisor, em seguida a Radio Assunção, que também era da Diocese Fortaleza, convidou-me para ser rádio-escuta, uma função que não existe mais no Rádio e daí começou, passando pelas mais diferentes editorias, até chegar à área política. Naquele tempo, por ser uma época de regime de exceção no País, passamos por muitas situações complicada e cobrimos muita coisa também dificil, como por exemplo, o primeiro grande conflito de terras na Fazenda Japuara, município de Canindé, onde morreram sete pessoas.
2 – Quais foram suas influências no início de carreira e quais são suas influências atuais?
Claro que ao longo de nossa carreira jornalistica sofremos muitas influencias de profissionais experientes, como Geraldo Fontenele, João Ramos e Narcelio Lima Verde, no Rádio, Durval Ayres, Moraes Né e Frota Neto no jornal impresso, isto em termos de jornais locais do Ceará, onde vivíamos.
3 – Para os jovens jornalistas que estão iniciando sua carreira, como na maioria das profissões, é notório a diferença da teoria – do que se aprende em sala de aula – e a atuação na prática. Como sobreviver (bem e em destaque) nesse ambiente de trabalho dinâmico e intuitivo?
Na verdade, há um distanciamento entre teoria e prática e inclusive há muito tempo defendemos mudanças neste relacionamento, talvez com uma aproximação maior entre escola e redações, o que poderia até mesmo chegar a transformações profundas no que é ministrado. Entretanto o fundamental mesmo é o jornalista ter a consciência de que o exercicio da profissão é um aprendizado permanente e constante, e, mais ainda, que nunca sabemos tudo, há sempre um pouco mais a aprender, por isto, o fundamental é ter em mente que ainda falta alguma coisa para melhorar uma matéria, complementar uma informação, enfim, nunca achar que já fez tudo.
4 – É cada vez mais evidente nacionalmente e localmente uma imprensa parcial. Qual seria uma solução para uma imprensa verdadeiramente livre?
Pensar uma imprensa verdadeira livre é querer demais, porque sempre estamos em busca do que ainda não temos, mas em primeiro lugar, a coisa começa na consciência de cada profissional que precisa, em primeiro lugar, aprender a questionar dentro da empresa, sem precisar de brigas nem confrontos, muito menos em desafiar seus superiores hierárquicos a importância de manter a fidelidade aos fatos, mesmo que discorde. Traduzindo: Eu posso até ter um ponto de vista contrário a determinada coisa, mas se aconteceu e principalmente se é de interesse público, deve ser registado tal como ocorreu. E isto o jornalista precisa ter personalidade para fazer, sem precisar brigar com seus superiores.
5 – O seu trabalho é reconhecido por diferentes gerações, fruto de grande competência e , claro, bons relacionamentos. Como você observa com um olhar periférico sua trajetória e a trajetória da imprensa piauiense? Sou muito grato ao reconhecimento que a sociedade faz com relação a mim e ao meu trabalho, porque afinal de contas, foi neste sentido que sempre trabalhei, por isto sinto-me perfeitamente compensado, talvez até mais do que mereço. Sinto o carinho e o afago das pessoas e isto para mim é tudo, porque vejo que minha luta não foi em vão. Vejo a imprensa piauiense crescendo muito, talvez mais rapidamente no ponto de vista tecnológico, mas também com avanços em termos de conteúdo e isto é positivo.
6 – Conheço muitos amantes do rádio, me incluo nessa lista. Com a crescente popularidade da internet você, que trabalha nesse tipo de veículo, acredita que o rádio mantém o seu papel e a sua força? O que mudou com a atualização da tecnologia e de novas mídias?
O rádio sempre foi o grande veiculo de comunicação e continuará sendo, até porque é o maior beneficiário das inovações tecnológicas da atualidade.
7 – As pessoas atualmente estão mais informadas? E a qualidade dessa informação que chega ao grande público, o que achas?
Eu acredito que o nível da informação que chega a população é tão veloz e tão rápido que as vezes o público não tem nem tempo de raciocinar. Nós jornalistas temos que ser mais concisos e aprender a informar mais objetivamente – em relação à mídias mais dinâmicas. Entretanto a analítica da imprensa deve ser mais aprofundada no meio impresso. A tendência da informação escrita deve ser mais analítica e a informação deve ser mais aprofundada pois é um documento. Sobre a qualidade atual, observo que a imprensa esta se preocupando muito com a informação declaratória, simplesmente reproduzindo o que a pessoa diz, sem uma interpretação, sem ir a fundo na história. A informação deve ser mais trabalhada, o publico precisa de mais elementos na informação.