Brasileiro cria terapia contra Aids com superanticorpos

19 de novembro de 2013
lab

Um tratamento contra o HIV que usa proteínas clonadas do organismo de pessoas imunes ao vírus teve eficácia mais duradoura que as drogas antirretrovirais convencionais em um teste com cobaias. Após usar anticorpos –moléculas de ataque do sistema imune– para tratar camundongos geneticamente modificados, Michel Nussenzweig, o cientista brasileiro que liderou a pesquisa, quer agora iniciar um ensaio clínico em pacientes humanos.

Junto com seus colegas da Universidade Rockefeller, de Nova York, Nussenzweig descreveu o sucesso do experimento num estudo publicado hoje pela revista “Nature”. Os anticorpos monoclonais –clonados a partir de uma única célula– usados no teste, conseguiram reduzir a infecção por HIV a níveis indetectáveis em cobaias especiais.

Como o vírus da Aids não infecta roedores naturalmente, os cientistas tiveram de fazer o teste com camundongos geneticamente modificados, cujo sangue tinha características moleculares humanas.

Os anticorpos monoclonais, por sua vez, são uma técnica sofisticada que já vem sendo usada para tratar alguns tipos de câncer e doenças autoimunes. As proteínas usadas no experimento liderado por Nussenzweig, que já tinham sido descritas em outro estudo no ano passado, são capazes de neutralizar diversas variedades diferentes do vírus.

Segundo ele, outras pesquisas que tentaram usar terapia similar falharam por não terem anticorpos tão robustos à mão. Apesar de os anticorpos monoclonais serem uma abordagem mais cara que os antirretrovirais, existe uma perspectiva de uso para a técnica no tratamento de soropositivos, pois eles praticamente não possuem efeitos colaterais.

“A vantagem dessa abordagem é que os anticorpos são um produto natural, feito pelo organismo humano”, disse Nussenzweig à Folha.

“Os eventuais voluntários num teste clínico serão aqueles que não toleram bem as drogas, aqueles nos quais a droga está falhando ou aqueles querem passar por um tratamento com doses uma vez a cada poucos meses, em vez de ter de tomar algo todo dia.”

No experimento com os camundongos “humanizados”, tanto a terapia de anticorpos quanto as drogas antirretrovirais foram eficazes em manter a carga de vírus em níveis baixos. Quando o tratamento foi cessado, porém, o vírus voltou a proliferar em poucos dias nos indivíduos tratado com medicamentos. Os animais que estavam recebendo os anticorpos, porém, permaneceram sem sintomas por até dois meses.

“Em humanos, a meia-vida [taxa de deterioração] de anticorpos é ainda mais longa que nos camundongos”, afirmou. “Esperamos que esse período de eficácia seja o dobro ou o triplo.”

O teste clínico para testar a terapia ainda não tem data para começar. Nussenzweig e seus colegas ainda precisam levantar verbas para começar o planejamento. “Um teste como esse custa caro, mesmo que seja pequeno, e provavelmente sai entre US$ 2,5 milhões e US$ 5 milhões”, afirma “Não estou acostumado a ter de levantar essa quantidade de dinheiro.”

O cientista, porém, se diz otimista quanto a possibilidade de levar a pesquisa adiante. No horizonte de possibilidades, existe até mesmo a chance de que os anticorpos monoclonais levem à cura da infecção.

“Não é provável, mas é possível, pois alguns animais foram efetivamente ‘curados’ no contexto do experimento” disse. O problema é que infecção não dura muito em camundongos, então não sabemos se a infecção acabou se esgotando sozinha ou se aconteceu mesmo uma cura.”

Além de planejar o teste clínico, Nussenzweig continua tentando desenvolver uma vacina capaz de induzir o sistema imune a produzir os anticorpos corretos espontaneamente. “Estamos trabalhando duro para isso”, diz. “Todos concordam que a vacina é realmente a solução para a epidemia.”

oto
Fonte: Folha de S. Paulo

Escreva um comentário