Olfato é o sentido mais ligado às emoções e à memória

1 de abril de 2014
nariz

Há um experimento divertido e fácil que Rachel Herz, da Universidade Brown sugere que seja feito em casa, mas somente se você prometer comer seus vegetais antes e escovar os dentes depois.  Compre um pacote de balas de goma sortidas de boa qualidade para prová-las como um “gourmet”. Então, experimente as balas sistematicamente até que tenha certeza de ter distinguido cada um dos sabores, porque, de qualquer forma, você pode nunca mais ter uma desculpa para fazer isso tão bem.

Agora tente provar as balas fechando suas narinas. Percebeu alguma diferença? Isso mesmo – agora não há nenhuma diferença entre balas diferentes. Cada uma delas tem um gosto doce mas, na ausência do olfato, você também poderia estar comendo uma borracha de lápis adoçada. E se, ao mastigar, você destampar o nariz, o que acontece? O charme da balinha volta ao normal e você pode identificar seu sabor.

Todos já ouvimos falar dos misteriosos poderes do olfato e sua importância no amor, amizade e alimentação. No entanto, uma brincadeira simples como essa mostra que nós não compreendemos por completo a profundidade da importância do nariz.

No simpósio internacional do olfato e paladar, realizado em San Francisco no mês passado, Herz e outros pesquisadores discutiram as muitas maneiras que nosso olfato atua.

O olfato é um sentido antigo, a chave que levou nossos ancestrais a aprender a caçar ou fugir. Ainda assim, o aroma certo pode evocar sensações vívidas e concretas.

Se por um lado, disse Jay A. Gottfried da Universidade Northwestern, o olfato é nosso sentido mais lento, porque depende de mensagens carregadas pelo ar (não na velocidade da luz ou do som), ele também pode ser nosso sentido mais rápido. Isso porque os sinais visuais ou sonoros devem ser assimilados pelo tálamo antes de chegar às regiões interpretativa do cérebro, enquanto mensagens olfativas vão diretamente do nariz para o córtex olfativo do cérebro, para processamento instantâneo.

É importante lembrar que o córtex olfativo está envolvido com o sistema límbico do cérebro e com a amígdala, onde as emoções nascem e memórias emotivas são registradas. É por isso que cheiros, sentimentos e memórias ficam tão próximos, e porque o simples ato de lavar pratos fez com que o primo de Herz chorasse recentemente. “O cheiro do sabão o fez lembrar de nossa avó”, disse a autora de The Scent of Desire (O cheiro do desejo, em tradução livre).

Muitos mamíferos têm, claramente, um olfato melhor que o nosso. Considere que nosso epitélio olfativo, a parte amarelada da mucosa localizada a sete centímetros de nossas narinas, tem cerca de 20 milhões de receptores de aromas feitos para detectarem moléculas de odor que chegam por nossas narinas ou pelo fundo de nossas bocas, dando um sentido para cada uma das balas de goma. As membranas nasais de um cão de caça, por contraste, podem ter 220 milhões de receptores.

No entanto, os humanos podem desenvolver um melhor olfato com facilidade. Em uma experiência, disse Gottfried, pessoas expostas a apenas uma essência floral por 3,5 minutos melhoraram significativamente sua capacidade de diferenciar esse aroma entre outros florais.

Em outro, participantes aprenderam rapidamente a distinguir diferenças normalmente indetectáveis entre um aroma herbal e sua cópia molecular, se tomassem choques elétricos cada vez que respondessem errado.

Ainda, diversos estudos demonstraram que nossa memória olfativa é longa e resistente, e que as primeiras associações olfativas que fazemos normalmente permanecem.

“Com um número de telefone, se você comprar um novo, em uma semana terá esquecido o antigo”, disse Herz. “Com aromas, as coisas acontecem de outra maneira. A primeira associação é sempre melhor que a segunda.”

Em outra apresentação, Maria Larsson, professora da Universidade de Estocolmo, descreveu o poder do olfato para funcionar quase como uma máquina mágica do tempo, com potencial para o tratamento de demência e depressão. Johan Willander e outros pesquisadores de seu laboratório conseguiram obter confirmação empírica sólida para a antiga hipótese proustiana, a idéia que aromas, como a da famosa madeleine com chá, podem ajudar a aproximar o passado.

Estudando grupos de suecos cuja idade média era 75 anos, pesquisadores apresentaram três conjuntos dos mesmos 20 sinais de memória – compostos por palavras, figuras e aromas. Os cientistas descobriram que, enquanto os sinais escritos e visuais evocavam memórias predominantemente da adolescência e juventude, os sinais aromáticos evocavam memórias da primeira infância, abaixo dos 10 anos de idade.

E apesar de serem memórias bastante antigas, Larsson disse, as pessoas as descreviam com termos excepcionalmente ricos e emotivos, e muitas vezes reportavam a sensação de terem subitamente se transportado no tempo.

Larsson atribui o fato das memórias olfativas serem tão precoces ao fato de nosso olfato ser o nosso primeiro sentido a amadurecer, enquanto a ligação com o córtex garante uma ligação entre os aromas e as emoções.

Fonte: The New York Times

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