Barulho pode prejudicar a saúde

14 de junho de 2010

O consumo de calmantes e a queda de cabelo causada por estresse não têm relação com a vida pessoal e profissional da analista contábil Cristiane Alves, 35. A fonte de tensão é o barulho na sua casa, na zona sul de SP.
As janelas antirruído não dão conta de barrar o volume alto dos carros nem o som dos bares. Houve noites em que foi dormir em um hotel.

“O próximo passo será colocar forro de lã de rocha no teto. Um investimento louco. Deveria estar pagando uma pós, mas tenho de gastar dinheiro por causa da inconsciência alheia”, desabafa.

Seu plano de médio prazo é se mudar de São Paulo. “Os bairros calmos foram muito valorizados e não tenho condições de ir para eles.”

A exposição crônica a altos ruídos pode gerar mais danos do que perda auditiva e zumbido. Trabalhos científicos associam som alto a insônia, ansiedade, estresse, aumento da pressão arterial e alteração no funcionamento do estômago.

Para Ayurveda, um dos mais antigos sistemas medicinais, o excesso de estímulo a algum dos sentidos afeta o físico e a mente. “Barulho demais gera vibrações que aceleram o organismo”, diz o terapeuta Erick Schulz, vice-presidente da Associação Brasileira de Ayurveda.

DE BERÇO

Crianças já sentem os efeitos de ambientes ruidosos.

Para seu pós-doutorado na Unicamp, a fonoaudióloga Keila Knobel está entrevistando alunos de sete a 11 anos sobre ruídos.

Dados preliminares mostram que mais de 90% das crianças não gostam de música alta nem de barulho e sabem que esses sons fazem mal. Dizem que são expostas ao ruído pelos adultos.

“Estamos em um mundo onde vence quem fala mais alto. Os alunos reclamam, mas eles mesmos não conseguem controlar o barulho que fazem”, diz Knobel.

No Colégio Santa Maria, em São Paulo, a professora Luciana Proença criou o “minuto do silêncio”, em que seus alunos, de três anos, fazem uma pausa para pensar.

“Eles não entendem o que é  silêncio”, conta.

Algumas iniciativas isoladas já indicam a necessidade de ouvir menos. O bar Sonique, em São Paulo, faz uma balada sem música ambiente. Quem quer dançar escuta o som em fones de ouvido.

“Mesmo para o maior amante de música eletrônica, passar horas ouvindo é maçante. Nas festas em silêncio, a equipe trabalha mais tranquila”, conta o gerente Daniel Maculan.

Quando os retiros de silêncio surgiram no Brasil, achavam que era “coisa de louco”. Nesses encontros, que duram dias, pratica-se meditação e todos ficam mudos a maior parte do tempo.

“Hoje há vários retiros lotados. A necessidade é tanta que as pessoas pagam preços exorbitantes”, diz Schulz.

No dia a dia, a saída é buscar oásis no caos. “Cerca de 15 minutos longe do barulho já  descansa as células ciliadas do ouvido”, diz a otorrinolaringologista Márcia Kii, do Instituto Gunz Sanchez.
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Fonte: Folha de S. Paulo

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