Medicina do viajante
6 de dezembro de 2010Destino escolhido, passagens compradas e malas prontas. Já foi o tempo em que essas eram as únicas preocupações daqueles que deixavam suas casas para ganharem o mundo durante viagens de férias ou a negócios. A Medicina do Viajante, área voltada aos cuidados médicos relacionados aos deslocamentos entre cidades e países, começa a ganhar espaço no Brasil e na lista de preparativos de turistas que, mais do que roupas e produtos estéticos, têm reservado espaços na bagagem para remédios, comprovantes de vacinas e itens adequados de higiene.
“O objetivo não é ameaçar, mas oferecer um instrumento para que o viajante possa aproveitar uma viagem sem risco”, explica o infectologista Marcos Vinícius da Silva.
Os cuidados começam com uma consulta pré-viagem, com duração de aproximadamente uma hora, em que médico e paciente (ou “viajante”, como insiste Silva) analisam o roteiro planejado. Além das medidas mais práticas, como a aplicação de vacinas de acordo com o destino, o check up inclui uma avaliação individual das atuais condições de saúde do passageiro, os locais pelos quais irá passar, os tipos de hospedagem contratados e os meios de transporte utilizados.
Foi pensando nisso que Ricardo* procurou uma clínica especializada no assunto antes de se aventurar 250 km adentro no Parque Indígena do Xingu, entre o Pará e o Mato Grosso. Soropositivo, esse viajante esteve alguns dias na região para pescar com os amigos em uma área isolada e sem nenhuma infra-estrutura.
“Saí melhor preparado dessa vez, desde a hora que deixei São Paulo até o meu retorno. A gente se sente mais seguro quando tem conhecimento do que pode acontecer e está preparado”, explica Ricardo. Nesse caso, preparação significou uma alimentação sem ingredientes crus, frutas bem lavadas, constante higienização das mãos e uso de repelente especial para evitar feridas causadas por picadas.
“O viajante só costuma se lembrar das questões de saúde quando se trata de uma obrigação oficial (caso da exigência da vacina contra febre amarela para países como Bolívia e África do Sul). Caso contrário, essa será sua última preocupação”, alerta Marcos Vinícius que, além de infectologista, é um experiente desbravador de territórios selvagens como a Ilha da Queimada e comunidades ribeirinhas do rio Tapajós.
É com esse currículo eclético que o médico costuma orientar seus pacientes com dicas preciosas que valem não só antes do embarque, mas também após o retorno à cidade de origem.
Veja algumas dicas dadas pelos profissionais da Medicina do Viajante:
- Muitas vezes, o futuro paciente já sai de casa com condições patológicas pré-existentes. Por isso, recomenda-se uma consulta anterior com pelo menos quatro semanas de antecedência à viagem;
- Seguros de saúde costumam encaminhar seus clientes para hospitais comuns, o que pode causar erros de diagnóstico no caso de uma doença inexistente naquele país;
- Poucos sabem, mas é recomendável fazer também uma consulta pós-viagem para diagnóstico e tratamento de possíveis doenças adquiridas nos locais visitados;
- Um profissional da medicina do viajante pode orientá-lo sobre possíveis doenças emergentes, como são chamadas as enfermidades que não existiam como a gripe causada pelo vírus influenza;
- Um dos maiores vilões nos países africanos é a malária, doença transmitida pela picada de inseto e que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, só é superada pela AIDS em número de mortes. Para quem vai fazer safáris, deve-se ter em conta que roupas escuras ou coloridas atraem a atenção de mosquitos, bem como perfumes e repelentes com aloe vera. Coincidentemente, os melhores horários para observação de animais selvagens são pela manhã e no fim de tarde, quando os mosquitos transmissores da doença estão na ativa;
- Na Ásia, a poliomielite e a encefalite japonesa, uma infecção aguda responsável por um quadro neurológico gravíssimo, são algumas das preocupações que devem ter os viajantes que visitam esse continente que muitas vezes apresentam condições higiênicas insatisfatórias;
- Na América do Sul, onde países andinos como Bolívia e Peru podem causar tanto fascínio quanto dores de cabeça, a preocupação deve ser com a alimentação na rua, febre amarela em algumas regiões de floresta e o clássico “mal de altura” que acomete os que visitam cidades altas, como Cusco, próximo a Machu Picchu. Ainda assim, cada roteiro exige uma orientação diferente;
- Mergulho e avião são duas combinações mortais para o viajante, devido aos altos riscos de uma embolia gasosa. Recomenda-se não voar em até 24 horas após a realização dessa atividade marítima;
- Os cuidados não são apenas necessários em viagens por países subdesenvolvidos. A Europa também exige cuidados. Os Alpes e as estações de esqui são alguns dos locais que merecem atenção redobrada, não só pelo risco de enjôos em altas altitudes, mas pela possibilidade de queda. Aliás, vale lembrar que tombos em geral são a principal causa de acidente entre os que viajam. Certas regiões rurais sofrem também com a brucelose, doença causada por uma bactéria encontrada em laticínios caseiros.
Fonte: UOL