Entrevista: Vavá Riberio
21 de dezembro de 2010Ser unanimidade na terra em que nasceu não diminui de maneira alguma a busca incessante por seu lugar na música popular brasileira. Vavá Ribeiro faz seu primeiro trabalho com parcerias de peso, grava todas as faixas em Campinas (SP) em um trabalho inusitado: temático, com uma levada bastante familiar ao norte e nordeste do país, utilizando as diversas formas do baião costurando melodias e ritmos nesse aguardado novo álbum. Lança seu novo disco esse ano de 2010 já com planos e contatos para um 2011 mais digno de sua maestria, de permitir sua voz e composições encantar outros ares, com seus tons inconfundíveis. O resto de toda a história do cd Rota dos Reis e algumas curiosidades a mais, você confere abaixo:
Otorrinos 24 Horas – Você lançou neste ano o cd Rota dos Reis. Fale-nos desse trabalho.
Vavá Ribeiro: O cd “Rotas de Reis” foi gravado, mixado e masterizado no período de agosto de 2009 a fevereiro de 2010 no Estúdio Soundscape de Campinas-SP, por Elládio Jardas e por mim.
Um trabalho temático, com letras e melodias inusitadas, em que os ritmos favorecem a região nordeste com suas nuances de maracatú e baião, e vai subindo um pouco ao Norte, com uma levada chamada marabaixo, oriunda do Pará e Amapá.
Além das participações mais que especiais do cantor e compositor mineiro Vander Lee e da cantora paulistana Paula Moreti, o cd contou com instrumentistas renomados como Jorjão Carvalho, Sandro Haick, Lara Ziggiatti, Santão, Aramis Rocha, Lucas Casacio, Marcelo Valezi, Thadeu Romano e o próprio Elládio Jardas.
Composto por 12 canções, o “Rotas de Reis” teve apoio direto do Governo Federal, através da FUNARTE, dentro do Projeto Pixinguinha e teve como elaborador, o cantor e compositor piauiense Gilvan Santos, com apoio do artista humorístico e também compositor Toni Carlos, associados da Produtora ADJUNTO. O mesmo foi lançado em julho de 2010, com tiragem de 2 mil cópias e está à venda exclusivamente na loja Toccata Discos, na rua Angélica, no bairro de Fátima, ao lado do Pão de Açúcar, desta capital.
P- Foi feito algo de novo que você nunca fez em um álbum anterior?
R: Sim, desta vez gravei uma parceria minha com Gilvan Santos e outra com Reginaldo Leal, além de uma canção de cada um desses compositores que são: Geraldo Maia/Carlos Mascarenhas, Nivito Guedes e Erasmo Dibell/Zé Américo, diferentemente do “Calmaria” e “Do Seu Lado”, cd’s totalmente autorais.
P – Como está sendo executar as faixas novas ao vivo? Como está a agenda de shows?
R: Na verdade, estou deixando as pessoas conhecerem aos poucos as canções para começarem a pedir nos shows, mas já tem muita gente se manifestando (risos), e é muito bacana saber que estou acertando no repertório!!
Tenho feito poucas apresentações em casas noturnas de Teresina, porque ando viajando muito para festivais e mostras musicais pelo Brasil inteiro, na tentativa de divulgar o trabalho e adquirir possibilidades de shows futuros. Além disso, minha agenda se resume em apresentações pelo interior do Piauí e festas de aniversário, casamentos e confraternizações de empresas locais, que pagam um cachê à altura do artista, pelo reconhecimento do seu trabalho.
P – Teresina é famosa pelo extremo calor que faz durante todo o ano. Isso influencia musicalmente em você?
R: Não exatamente em mim, mas o fenômeno do calor deixa as pessoas mais à vontade, o que gera mais desenvoltura e aproximação na relação dia-dia!
A dificuldade de socialização nos lugares frios se dá pela forma enclausurada em que as pessoas vivem, trancadas em suas casas, e isso também pode causar a dose de solidão vazia, necessária ao compositor nato. Eu aqui, prefiro sentir uma saudade mais completa de lembranças vividas com gente que me ama e que eu adoro, do que viver o drama de não saber se reconhcer nem ser reconhecido no seu próprio habitat, pelo medo de tudo e de todos!
P – Quais os cuidados que você tem com sua voz, sua saúde?
R: Falo baixo em locais barulhentos, procuro não pigarrear para não irritar a garganta e evito bebidas geladas, embora seja fã de cerveja (risos)!
Às vezes, passo meses viajando e acabo engordando um pouco pela alimentação desregulada, mas sempre que estou em casa, malho e faço cooper constantemente, para manter a saúde e a estética sempre de forma positiva.
P – Você vive de seu trabalho musical?
R: Vivo exclusivamente da música, não tenho nenhum patrocínio nem quando viajo para representar o Piauí n’algum evento nacional!
Sou formado em Letras-português, mas nunca lecionei.
P – Relembrando seu início de carreira, quais as diferenças que você vê em sua evolução musical e pessoal nos dias de hoje?
R: Eu era muito tímido e duvidava da grandeza do meu trabalho!
Hoje, tenho plena consciência da contribuição de minha obra para a cultura piauiense, da relação verdadeira com pessoas de todas as classes sociais e a certeza de que sucesso, depois de um certo nível, é fator de sorte!
P – Qual foi o momento mais inesquecível de sua carreira?
R: Cada show é um momento inesquecível para mim! Cada pessoa que sorri ou chora à minha música e minha voz, cada elogio, cada foto tirada, cada beijo e cada abraço é uma pegunta que me faço: até quando vou aguentar chegar em casa engasgado de uma saudade de um ser que eu não conheci a fundo e nem sei se ainda irei revê-lo??! Então, me vejo com prateleiras em minha memória, cheias de vazios silenciosos e perturbadores quando deito em minha cama depois de mais uma noite de trabalho! São minhas verdades que ninguém consegue ver!!
P – Que músicas e músicos você costuma escutar?
R: Escuto muito os amigos que encontro em festivais por aí! Também escuto Lenine, Chico César, Zeca Baleiro, Vander Lee, Caetano Veloso, Beto Guedes, Flávio Venturini, Gilberto Gil, Renato Brás, Renato Teixeira, Dominguinhos, Gonzaguinha, Luis Gonzaga, Bethânia, Nana Caymi, Olodum, Araketo, Paulinho Pedra Azul, Lulú Santos, Soraya C. Branco, ufa… Muita gente!!
P – Como você vê esse mercado digital da música atual?
R: Não é, nem será fácil fazer música de qualidade daqui pra frente!
A população de massa não consegue acompanhar uma linguagem mais inteligente e menos pejorativa, por isso, se fala muito de bundas e frases feitas sem nenhum valor poético.
O poder dos sites de interatividade também acabam sendo engolidos por essa música de baixo teor educativo, anulando, mesmo que não de forma definitiva, os espaços que nos restam para a comercialização do nosso trabalho!!
Outro agravante é que por não conseguirmos um bom respaudo no mercado, não conseguimos atrair grandes gravadoras que possam investir em nós! As mídias globais custam muito caro e nós não temos recursos para pagar aos programas televisivos pela nossa aparição a nível nacional!
Sou feliz porque em meu estado consigo trabalhar a minha música! Dizem por aí que sou privilegiado por saber o segredo! Mas sempre digo que o meu povo é que é mais exigente e já se cansou de tanta balela (risos)!!
Rápidas:
Uma música? Bry(Kleyton e Cledir).
Um lugar? Minha casa.
Um show? O próximo.
Um site? Todos do Piauí.
Um video clip? Não me vem à memória no momento.
Música que suas filhas mais gosta que cante para ele? Elas ainda estão novinhas, não estão exigentes!!
Comida? tudo com carne de frango e vegetais e sopas!
Inspiração? Meu dia traz sempre uma surpresa!
Fábio Carvalho