Hormônio feminino controla audição
16 de março de 2011Para o bem e para o mal, os hormônios femininos costumam exercer forte influência nas relações entre homens e mulheres. Mas, segundo pesquisadores da Universidade de Oklahoma (EUA), além da diferenciação sexual, o estrogênio, principal deles, é essencial às funções auditivas.
Em experimentos com pássaros, a equipe descobriu que, para que o cérebro entenda, memorize e diferencie as informações que chegam aos ouvidos, ele depende totalmente do hormônio.
Segundo o neurocientista brasileiro Raphael Pinaud, chefe do estudo publicado no “Journal of Neuroscience”, a ligação de problemas auditivos com a síndrome de Turner -doença genética causada pela ausência de um cromossomo feminino- e com a menopausa ajudou a nortear a pesquisa.
“Todos achavam que a perda hormonal e a auditiva, apesar de ocorrerem simultaneamente, não estavam diretamente ligadas. Percebemos que a perda auditiva pode ser diretamente causada pela perda hormonal.”
DIREITOS IGUAIS
Mas isso não significa que as mulheres escutem melhor que os homens.
“Obviamente, as fêmeas têm níveis muito mais altos de estrogênio do que os machos. Mas esse é o estrogênio periférico, produzido por ovários e testículos. No cérebro, onde é produzido o estrogênio que controla a função auditiva, isso não é verdade, os níveis são idênticos”, explica Pinaud.
E é a ausência desse “estrogênio local”, atuando como neurotransmissor -uma espécie de “mensageiro químico” do cérebro- que bloqueia nossa audição, mesmo que os ouvidos estejam em perfeito funcionamento.
TRATAMENTO
Pinaud diz que o próximo passo de sua equipe é encontrar um tratamento para problemas auditivos causados pela falta do hormônio.
“Mas tratamentos convencionais com estrogênio não seriam a solução. Apesar dos efeitos positivos, ele induz a carcinogênese -ou seja, aumenta a probabilidade de vários tipos de câncer”, afirma.
Um outro efeito colateral possível do estrogênio é a “feminilização” de um organismo masculino que se submetesse ao hormônio.
Uma alternativa para esses casos é o uso de fitoestrogênios -ou seja, hormônios similares aos do ser humano, mas extraídos de plantas.
Entre eles, a equipe de Pinaud busca aqueles que atuem na audição e não provoquem efeitos indesejados. “Temos 12 fitoestrogênios possíveis até agora”, diz.
Outra possibilidade é a produção artificial desse tipo de substância.
Fonte: Folha de S. Paulo