Aula do Barcelona se estende a todo o futebol brasileiro

20 de dezembro de 2011

“Hay que tener la pelota”. Sempre que vejo o Barcelona jogar, me lembro das palavras do treinador argentino Ricardo La Volpe. Estava em uma coletiva de imprensa em que a seleção da Costa Rica (treinada por ele) perdeu para a Argentina na Copa América 2011 e ele, nervoso, explicou didaticamente porque a sua equipe foi derrotada com tanta facilidade.

Ter a posse de bola é algo evidentemente simples. Também é a chave do maravilhoso jogo praticado pelo Barcelona. Com mais posse de bola, sua equipe pode atacar massivamente sem se expor tanto. O princípio de ter a bola por mais tempo é o fundamento da imposição técnica.

Colocado dessa maneira, parece simples explicar o modo que o Barcelona joga. No entanto, para entender o futebol do time de Messi é preciso considerar que nunca o gigante catalão honrou tanto a tradição de ser  mais que um clube. Atualmente, pode se dizer que a camisa azul-grená representa não apenas um time, mas um conceito futebolístico.

O momento atual do Barcelona pode ser explicado de dois jeitos. O simples remete à forte influência do futebol total da seleção holandesa de 1974 no clube e ao trabalho de gente como Johan Cruyff  e Frank Rijkaard.  A filosofia de jogo foi sendo lapidada até atingir seu esplendor pelos pés de craques como Messi, Xavi e Iniesta. Esse é apenas um dos modos de entender o jeito de jogar do Barcelona.

Outro jeito de compreender o jogo catalão não é lógico, mas puramente conceitual. O  Barcelona exibe esse futebol atualmente por ousar contrariar o pensamento que domina a maioria dos clubes e seleções de futebol no mundo. Em um universo em que reina o pragmatismo, o Barça ambicionou vencer jogando bonito. A  expressão tipicamente espanhola “a disfrutar” explica bem o modo que o clube de Guardiola encara o jogo. O Barcelona não quer apenas a alegria prática de ganhar torneios. Isso é pouco. O clube catalão prega que para vencer da maneira correta é preciso aproveitar o jogo.

Desfrutar, apreciar… Curtir. Diante de todos os interesses que envolvem o futebol atual, encarar uma decisão mundial  dessa forma parece utópico. O Futebol de resultado tão comum em todo o mundo representa uma lógica que é própria da economia e não do esporte. “Eu gosto de ganhar” é um dos bordões mais conhecidos de Muricy. Como vencer importa pouco. A qualidade do jogo exibido não interessa… Afinal, desde de que dentro das regras o que vale é “marcar três pontos” .  Esse ideal tão comum representa o oposto da filosofia de jogo do Barcelona. Por querer sempre ganhar com um jogo coletivo e se impondo tecnicamente, o clube catalão mostra um futebol quase orgânico. Vence de forma natural. Nos últimos anos, o que é estranho é ver o Barcelona perder diante de clubes que pensam tão pequeno.

Na decisão desse domingo não foi diferente. O Santos é o melhor time da América do Sul sim. Neymar e Ganso são craques. Muricy  Ramalho é um grande treinador e Borges é um artilheiro nato. Mas antes do jogo acontecer o time praiano já havia perdido. O Peixe não perdeu de um clube. Foi derrotado por um ideal. E ideiais e sonhos são maiores que homens, por mais talentosos e esforçados que estes sejam.


Fonte:
Rafa Santos/ Redação Yahoo! Brasil Foto: Reuters

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