Câncer na tireoide

19 de março de 2010

Aumento de incidência de câncer na tireoide preocupa médicos
Os médicos ainda não sabem explicar com certeza porque a incidência do câncer de tireoide tem aumentado tanto: junto com o melanoma maligno (um tipo de tumor de pele) é a neoplasia que mais cresce no mundo e no Brasil, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Parte dos especialistas aposta no avanço dos meios de diagnóstico, o que teria tornado possível detectar tumores que anos antes passariam despercebidos; outros garantem que os hábitos de vida, sobretudo a alimentação, têm participação na evolução da doença.

“Entre 1973 e 2001 os casos de câncer de tireoide passaram de 3 para 7 em cada 100 mil habitantes. São dados norte-americanos, mas servem de referência também para o Brasil. Não temos aqui um rastreamento tão preciso para este tumor, mas os especialistas brasileiros relatam esse mesmo crescimento, de quase três vezes, com base na prática clínica”, afirma o médico Fernando Luiz Dias, chefe da seção de Pescoço e Cabeça do Inca.

Dias lembra que o aumento de diagnósticos do câncer de tireoide coincide com a consolidação da técnica de ultra-som, que chegou ao Brasil na década de 1980 e permite uma boa análise de nódulos suspeitos no pescoço. “Além disso, como a classe médica percebeu que o câncer de tireoide é cinco vezes mais frequente na mulher, começamos a receber pacientes encaminhadas pelo ginecologista. Hoje, preconizamos que a mulher, ao iniciar sua rotina de exames ginecológicos, passe pelo ultra-som de tireoide”, diz.

De acordo com os dados do Inca, a faixa populacional mais atingida pela doença é justamente a da mulher jovem, entre 20 e 50 anos. Isso se deve, na avaliação do médico Hans Graff, presidente da Sociedade Latino-americana de Tireoide, ao padrão hormonal feminino. “Está claro que o estrogênio tem uma ação proliferativa sobre as células da glândula”, explica.

Entre os vários tipos de câncer de tireoide, a classe dos papilíferos é a mais comum – ela responde por 87% dos tumores nesta região, segundo informações do Inca. É também o papilífero que, segundo a especialista Laura Sterian Ward, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia de São Paulo, recebe mais influências dos fatores ambientais. “É um tumor que tem relação com elevadas concentrações de iodo, que são ingeridas por meio do sódio exagerado na alimentação. O sódio é iodado e aparece em abundância nos produtos industrializados. Também a obesidade é um fator de risco para o câncer de tireoide”, garante a profissional, chefe do Laboratório de Genética Molecular do Câncer da Unicamp.

Segundo Laura, entre os agentes externos associados ao câncer de tireoide está ainda a exposição à radiação ionizante. “Após a explosão nuclear de Chernobyl, por exemplo, os casos de câncer de tireoide se multiplicaram naquela região. A radiação está também na atmosfera, em pequenas doses, e tomamos contato com ela nas viagens intercontinentais”, diz. “Ela também vem por meio de exames médicos, como o raio X. Isso não significa que devemos abandonar esse tipo de procedimento, até porque ninguém passa por raio X todo dia. Mais preocupantes são os tratamentos a base de radiação, usados contra linfomas, por exemplo.”

O médico Alberto Rossetti Ferraz, chefe da disciplina de cabeça e pescoço do Hospital das Clínicas, ressalta que o curso do câncer de tireoide não é afetado por outras doenças que podem acometer a glândula, como hipotireoidismo e hipertireoidismo. “O câncer vem de um nódulo na glândula, mas nem todo nódulo é maligno. Também é importante diferenciar nódulo de cisto: o nódulo tem tecido, com sangue circulante dentro, enquanto que o cisto tem um conteúdo líquido e um risco de malignidade bem menor”, fala.

Ferraz lembra que o câncer de tireoide geralmente é assintomático, de modo que as alterações típicas da doença costumam se manifestar apenas em estágios avançados. “Engasgar fácil, dificuldade de engolir e alterações de voz são algumas delas”, diz. Segundo o especialista em cabeça e pescoço do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), Gilberto Castro, nem mesmo os testes dos hormônios produzidos pela glândula, como o T4, são bons indicadores para diagnosticar o quadro. “Alterações nesses hormônios também só vão aparecer em quadros muito avançados”, informa. Para detectar nódulos precocemente os especialistas recomendam fazer o autoexame da glândula.

SAIBA MAIS DETALHES E COMO TRATAR A DOENÇA:

TRATAMENTO – cirúrgico, geralmente. A tireoide é retirada e o local recebe radiação ionizante. A chance de cura é de 90%, sendo que depois o paciente passa a tomar um remédio (um comprimido ao dia) que substitui os hormônios produzidos pela glândula

PRESTE ATENÇÃO SE…

- Você passou por tratamentos à  base de radiação. A técnica era bastante usada até a década de 1960. Acne, amidalite e até piolhos eram combatidos dessa forma.

- Se você tem histórico de nódulos de tireoide na família. A resistência da glândula aos fatores agressores tem ligação com um padrão genético herdado.

- Se você é homem. Nódulos de tireoide são muito mais frequentes em mulheres, quando aparecem em homens merecem mais atenção: o risco de serem malignos é maior.

- Se você tem menos de 20 anos ou mais de 60 anos. Os nódulos de tireoide costumam aparecer na mulher jovem, entre 20 e 50 anos. Quando surgem na infância ou na terceira idade há mais chance de representarem um quadro de câncer.

FAÇA AUTOEXAME -

Material necessário: Copo com água e um espelho (com cabo, se possível)

Procedimentos: 1. Segure o espelho e procure em seu pescoço a região logo abaixo do ‘pomo-de-adão’ (local popularmente conhecido como gogó) 2. Incline a cabeça para trás para que o pescoço fique mais exposto e focalize esta região no espelho 3. Beba um gole de água 4. Com o ato de engolir, a tireoide sobe e desce. Observe se existe algum aumento ou saliência. Não confunda a tireoide com o ‘gogó’. Lembre-se de que a glândula está logo abaixo dele. Repita este procedimento várias vezes até ter certeza 5. Ao notar qualquer alteração, consulte o seu endocrinologista.

Fonte: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

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