Alergias respiratórias: casos crescem. Saiba como evitá-las
17 de novembro de 2011No começo de setembro, no dia 5, a cidade de São Paulo registrou o dia mais seco do ano. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a umidade relativa do ar era de apenas 15% — é decretado estado de alerta caso esteja entre 12% e 20%. Muita gente provavelmente nem tomou conhecimento do fato, mas talvez tenha enfrentado os sintomas típicos de dias assim: coceira nos olhos, nariz escorrendo e espirros seguidos. Embora comuns, as alergias respiratórias são sorrateiras, e podem ser causadas por vários motivos.
No Brasil, estima-se que 30% da população tenha algum tipo de alergia. De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (Asbai), a rinite atinge 30% e a asma 10% das pessoas. Nos Estados Unidos, a alergia é a quinta doença crônica mais prevalente em todas as idades e a terceira mais comum em crianças. “Estudos mostram que há um crescimento no aparecimento de todos os tipos de alergias no mundo todo”, disse Rachel Miller, professora de Medicina e Ciências Ambientais de Saúde da Universidade Columbia, em Nova York. Em 1980, somente 10% da população ocidental sofriam de alergias. Hoje, o número é três vezes maior. E, de acordo com previsões da Rede Global de Alergia e Asma (Galen), metade da população da Europa vai sofrer de algum tipo de alergia até 2015.
Não se sabe exatamente por que esse crescimento está ocorrendo. Especialistas em alergia levantam diversas hipóteses para explicar o avanço das doenças alérgicas. “A poluição, a industrialização, hábitos de vida e até alguns medicamentos podem estar propiciando o aparecimento da alergia”, diz Fábio Morato Castro, vice-presidente da Asbai.
“O aquecimento global pode ser uma das possíveis razões do aumento do número de pacientes com alergias e da piora dos sintomas”, afirma Michael Blaiss, ex-presidente do American College of Allergy, Asthma and Immunology (Acaai). Em alguns países, as mudanças no clima são responsáveis pela antecipação e por estações de polinização mais duradouras – o que também causa alergia. No Brasil, problemas em decorrência do pólen ocorrem mais na região Sul do país.
Muita limpeza
Há quem defenda a chamada hipótese de higiene, que basicamente afirma que quanto menos contato com a sujeira, maiores as chances de ter alergia. Segundo estudos, crianças que crescem em áreas rurais rodeadas de animais e que possuem famílias maiores parecem desenvolver asma e alergias de pele com menos frequência que crianças criadas em áreas urbanas. A principal pesquisa foi realizada por médicos do Hospital Infantil de Salzburg, na Áustria. Foram comparadas alergias em 319 crianças com idades entre 6 e 13 anos que cresceram em chácaras com 493 crianças que cresceram em ambientes mais ‘limpos’, como casas e apartamentos em áreas urbanas. Os resultados mostraram que crianças que viviam em fazendas tinham mais proteção do que as outras; e que quanto mais cedo elas fossem expostas a esses elementos, mais elas estariam protegidas. A hipótese sugere que a exposição a determinados vírus, bactérias ou parasitas ajuda o sistema imunológico a se desenvolver. Além disso, ensina o corpo a diferenciar as substâncias nocivas das inofensivas, que causam a asma, por exemplo. “Combinado a isso, há ainda um menor contato com a poluição em áreas rurais”, diz Blaiss.
As alergias ocorrem quando o sistema imunológico reage a uma substância estranha, como a poeira, medicamento ou alimentos, entre outras centenas de possibilidades. O sistema imunológico produz anticorpos para proteger o organismo de invasores indesejados, que seriam capazes de deixar uma pessoa doente ou causar uma infecção. Quando você tem alergia, o sistema imunológico produz anticorpos que identificam um alérgeno particular como algo prejudicial e por isso ocorrem essas reações.
Para J. Allen Meadows, presidente da comissão de educação e saúde pública da Acaai, outra evidência sugere que a exposição de crianças de países subdesenvolvidos a alimentos contaminados com substâncias fecais pode estar relacionada a uma menor incidência de alergia. Ele explica que essas infecções fazem com que o sistema imunológico combata infecções e não lute contra alérgenos. “Muitas crianças que têm essas doenças morrem. Mas aquelas que sobrevivem parecem estar protegidas da alergia”, diz Meadows. “Enquanto a distribuição de alimentos no mundo inteiro melhorar e ficar mais limpa e segura, as doenças alérgicas devem continuar a subir”, afirma.
Pouco sol
Outra teoria é a de que a redução gradual a exposição do sol diminuiu os estoques de vitamina D no organismo. Segundo Scott Weiss, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, mais de 70% das pessoas em grande parte dos países possui deficiência de vitamina D. O que, de acordo com ele, influencia o aumento das doenças conhecidas como autoimunes, inclundo alergias alimentares e diabetes tipo 1, por exemplo. “As alergias vão continuar aumentando. Isso vai ocorrer na mesma medida em que as pessoas continuarem passando tempo dentro de casa e deixando o nível de vitamina D diminuir”.
Na área científica, a epigenética é considerada uma área promissora. “Acredito que a epigenética tem potencial para explicar alguns mistérios da alergia. A ideia que o nosso ambiente pode mudar a forma que os nossos genes funcionam ou como eles podem ser alterados mesmo depois que nascemos é uma hipótese muito atraente para a asma. Isso porque é um problema crescente nos últimos tempos e não sabemos porque acontece”.
Enquanto a clareza sobre os processos alérgicos não avançam, resta ao paciente evitar a exposição à substância que causa a alergia. Nos casos em que isso não é possível, os médicos indicam remédios para tratar os sintomas. Há também a possibilidade de tratamento de imunoterapia, em que as vacinas podem diminuir os sintomas e colaborar para um melhor controle do problema.
Fonte: Veja