Entrevista: Esquadrilha da Fumaça
4 de maio de 2012O Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA), carinhosamente conhecido como Esquadrilha da Fumaça, é o segundo mais antigo do mundo – existe desde 1952 e é um claro exemplo de como o homem pode utilizar máquinas de guerra para encantar e trazer emoções positivas para uma nação. O valor ético e moral é o que notamos de cara na equipe formada por 60 profissionais que representam com muito orgulho a Força Aérea Brasileira no Brasil e no exterior.
No ano de seu cinquentenário, 2002, o EDA entrou para o Livro dos Recordes, quando onze aviões em voo de dorso percorreram 3 mil metros, em formação até então inédita. Em 2006, a marca foi batida pela própria equipe, com 14 aeronaves (os T-27 Tucano, fabricados no Brasil).
Batemos um papo excepcional com o solícito Capitão Álvaro Escobar Veríssimo, que nos deu uma ideia do que é participar desse time que exibe um verdadeiro espetáculo no céu com suas incríveis máquinas impactando e impressionando a todos. A Esquadrilha esteve no Piauí no final do mês de abril.
1. Quantas apresentações por mês/ou ano são feitas pelo grupo?
Capitão Escobar - Realizamos uma média de umas cem apresentações por ano. Em 2011 batemos nosso recorde: 123 apresentações. Mas temos uma média de dez por mês.
2. Com que periodicidade são atualizadas as manobras?
Posso te dizer que não temos mais como modificar as manobras, depois de tanto tempo de existência, efetuamos as manobras no limite da estrutura de nossos aviões, criamos todas as manobras possíveis que possam ser efetuadas pela máquina.
3. O que um piloto precisa fazer para ser um membro do esquadrão?
Todo membro do EDA é voluntário. Claro que o piloto deve ter marcas operacionais e ser inspetor de vôo antes de tudo, mas deve passar por uma aprovação do Conselho Operacional (composto por todos os oficiais do Esquadrão) unanimemente e o mesmo processo de aceitação serve para os mecânicos também. Os pilotos são formados na Academia da Força Aérea (AFA), localizada em Pirassununga/SP e podem se candidatar após completar 1500 horas de voo, sendo 800 delas como instrutores de voo da AFA.
4. Quem é o membro mais antigo? Quanto tempo? E o mais novo?
Existe um limite de quatro anos para permanecer nessa oportunidade de participar do EDA. Tem gente então que acabou de entrar, existe certa rotatividade. Então, assim, por hierarquia, o mais antigo seria o Tenente Coronel, o comandante Esteves. Por tempo de casa, temos vários sargentos com mais de 15 anos de Força Aérea.
O Esquadrão é formado por treze pilotos, que se revezam em sete posições de voo a cada demonstração. Toda apresentação conta com 7 aeronaves. Quando não há aeronave de apoio, ou seja, em circuitos breves, a equipe se desloca normalmente com 16 militares, sendo 8 pilotos (Oficiais) e 8 mecânicos (Suboficiais e Sargentos). Apenas um dos pilotos não participa da demonstração, pois fica responsável pela locução, juntamente com um auxiliar (mecânico).
5. O que faz cada um arriscar a vida nos céus? O que motiva continuar trabalhando no esquadrão?
Eu arrisco a vida tanto quanto você arrisca caminhando na rua. Eu não vejo como um risco. Acho que se eu visse dessa maneira eu nem estaria fazendo isso. (risos) O que nos motiva é a incessante busca pela perfeição, é atingir o limite do ser humano e da máquina, além claro de representar com orgulho a Força Aérea Brasileira.
6. Durante as apresentações tem como o piloto perceber as pessoas todas paradas observando o show?
Não, é impossível. E também não conheço alguém que consiga prestar atenção em algum detalhe lá em baixo. Em alguns momentos dá até para ver muita gente reunida, mas ver algo acontecendo, não. Para interação com o público temos o locutor, que é quem realmente percebe a reação, vê o que esta acontecendo aqui em baixo.
7. Como é o preparo dos pilotos: testes, a formação técnica, física e psicológica?
O principal de todo o preparo é a adaptação ao estilo de voar do EDA. O vôo acrobático ou não exige sim muito do preparo físico, mas depois da adaptação esse preparo fica em segundo plano, se mantém em um nível razoável. Existe um curso de 50 horas quando se entra na equipe, assim o piloto junto de sua experiência, aprende a maneira como o grupo atua.
8. Como são as apresentações em Teresina? Houve algum momento importante, que mereça algum relato?
Posso falar no Piauí como um todo? Por que fizemos na verdade 8 apresentações. A primeira em Teresina e outras pelo estado. O Grupo Claudino, que nos convidou desde a primeira vez a mais ou menos 15 anos atrás, é um parceiro sem igual, temos uma amizade muito grande pelo próprio sr. João Claudino, quanto todo o seu staff que nos recebe. O que posso destacar em nosso trabalho por aí é que o tráfego aéreo não é tão intenso quanto em outras capitais, assim podemos ter um pouco mais de liberdade quando retornamos por exemplo, das outras localidades fora da cidade. Você observa no final da tarde os aviões passando bem baixo, chamamos um pouco de atenção e temos um bom espaço para voar.