Esclerose sistêmica cutânea difusa

9 de abril de 2012
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Um estudo publicado em setembro na versão on-line do Scandinavian Journal of  Rheumatology sugere que a cóclea pode ser mais um órgão afetado pela esclerose sistêmica cutânea difusa. Para chegar a essa conclusão, pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) avaliaram 26 pacientes que apresentavam essa doença. Eles contam, no artigo, que os participantes responderam a questionários sobre sintomas otológicos e fatores de risco para perda auditiva e foram submetidos a avaliações físicas de ouvido/nariz/garganta. Audiometrias tonal e vocal e medidas de impedância também foram realizadas.

Os resultados do questionário, segundo os autores, mostraram que 54% dos pacientes com esclerose sistêmica cutânea difusa apresentavam queixas auditivas, sendo que 25% eram referentes à perda auditiva, 21% à plenitude auricular, 21% a zumbido e 21% à vertigem.

Ao comparar os resultados das audiometrias desses pacientes com controles, os autores notaram que, enquanto quase metade dos sujeitos com esclerose tinha perda auditiva, apenas 19% dos controles apresentavam o mesmo problema. Além disso, eles observaram que, entre os participantes com esclerose que tinham perda auditiva, todos apresentavam um componente neurossensorial, sendo que oito tinham discriminação excelente no Índice Percentual de Reconhecimento de Fala (IPRF). “Configuração descendente e recrutamento de Metz foram observados em 54% desses pacientes, sugerindo o envolvimento coclear”, afirmam os pesquisadores no artigo.

Em entrevista ao PRO-ORL a autora Tatiana Alves Monteiro, médica otorrinolaringologista pós-graduanda do HC-FMUSP, explicou que o acometimento da orelha interna, em especial da cóclea, em pacientes com esse tipo de esclerose provavelmente é consequência de uma alteração vascular, pois, segundo ela, o distúrbio principal na esclerose sistêmica é uma alteração no vaso. “A estrutura irregular dos vasos sanguíneos associada à densidade reduzida dos capilares na esclerose sistêmica resulta na diminuição do fluxo sanguíneo e finalmente em hipóxia tecidual. A cóclea é um órgão altamente sensível a alterações sanguíneas.

A hipóxia resultante das alterações vasculares da doença culmina com morte de células ciliadas (estrutura sensorial da orelha) que, clinicamente, se expressa com perda auditiva”, afirma.

Diferentemente do que ocorre na esclerose cutânea limitada – na qual o envolvimento cutâneo é restrito à face e às regiões distais do joelho e cotovelos –, na forma difusa da doença ocorre o espessamento da pele no tronco e na região proximal de membros (acima dos joelhos e cotovelos). Segundo Eloisa Bonfa, professora titular da disciplina de Reumatologia do HC-FMUSP e outra autora do estudo , o tempo de evolução também é diferente entre as duas formas de esclerose cutânea. “Na difusa, o quadro de pele tem desenvolvimento rápido, bem como o acometimento de órgãos internos, já, na limitada, o quadro é lento e o envolvimento de órgãos é mais raro. Não existe estudo específico de prevalência e incidência no Brasil, mas a forma limitada é mais frequente”, afirma.

Com relação à incidência da doença, a pesquisa em questão revelou que a forma difusa da doença foi mais prevalente em mulheres (83%), e a idade média dos pacientes foi 47 anos. Além disso, o tempo médio de duração da doença foi de 9,4 anos.

Para Eloisa e Tatiana, o estudo que conduziram revela a importância de se avaliar também a audição dos pacientes com esclerose sistêmica cutânea difusa. “O tratamento principal continua sendo o da doença de base; não existe uma medicação que faça regenerar a audição. Porém, no caso de distúrbios auditivos diagnosticados, existem tratamentos específicos que podem restaurar a audição do paciente, como o aparelho de amplificação sonora individual e o implante coclear, no caso de perdas severas a profundas bilaterais.

A reabilitação auditiva dos pacientes com surdez é importante não só pela melhora da qualidade de vida destes, mas também pela reinserção do paciente na comunidade e melhora de sua autoestima”, destacam as médicas.

Fonte: Agência Notisa

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