Jovem implanta prótese de crânio em acrílico após retirar tumor em brasília

29 de fevereiro de 2016
(Divulgação)

Vítima de um tumor que torna o osso poroso, a universitária Santana Rodrigues, de 24 anos, decidiu apostar em um método até então inédito em Brasília e reconstruiu a metade do crânio extraída em cirurgia com uma prótese acrílica. O material tem rigidez semelhante à óssea. O procedimento, orçado em R$ 360 mil, foi custeado pelo plano de saúde e realizado em setembro. A indicação foi dada pelo médico que a acompanhava. Santana procurou ajuda em novembro do ano passado, depois de perceber que o osso em cima da sobrancelha direita havia começado a crescer. ”Eu olhava para cima e aquilo já estava me atrapalhando a enxergar. Eu usava franja para poder esconder, porque dava diferença em relação ao outro lado”, lembra. “Aí começou a comprimir meu olho e estava alterando minha visão. Fiquei preocupada.”

Já na primeira consulta o profissional suspeitou que a jovem estivesse com um tumor provocado por uma síndrome rara conhecida como displasia fibrosa. Exames comprovaram a presença da neoplasia, considerada benigna. De acordo com o otorrinolaringologista e cirurgião Diderot Parreira, a doença não mata. ”O que ela faz é provocar esses tumores, que complicam. Eles vão crescendo e empurrando tudo o que está em volta – no caso da Santana, o cérebro e o olho”, explica o médico. “Não causa nem dor.”

Parreira explica que a evolução costuma ser lenta, diferentemente do que ocorreu com a jovem. O tratamento convencional é por meio de raspagem: depois de abrir o paciente e expor o tumor, médicos raspam o osso, retirando o máximo possível de material que podem. Depois, fecham o órgão e aguardam que o tumor volte a crescer para repetir o procedimento.
Também é comum colocar uma malha de titânio, que parece uma peneira de ferro. “Não dá proteção adequada, porque é maleável”, afirma o profissional.

Depois de discutir as possibilidades com o médico, Santana decidiu tentar a prótese 3D e pediu autorização ao plano de saúde. O pedido foi inicialmente negado, mas ela recorreu e obteve resposta favorável seis meses depois. O material foi construído em uma empresa de Brasília, a partir de tomografia de alta resolução – a metade saudável do crânio foi espelhada para ser usada como referência. A confecção levou quatro dias.

A cirurgia de retirada do tumor e reconstrução levou seis horas. Três médicos se envolveram no processo, que ocorreu no dia 3 de setembro. Depois, a jovem passou três dias na UTI e ficou com um dreno na cabeça. Os pontos foram retirados duas semanas depois. Ela não precisou raspar o cabelo e não teve nenhuma sequela.
“Minha recuperação foi rápida. Tive uma boa cicatrização, fiquei muito inchada no primeiro mês, mas eu tinha um corpo estranho dentro de mim, né? Mas, depois de 30 dias começou a desinchar. E depois de 45 dias voltei a trabalhar e a estudar, a ter as minhas atividades normais”, conta Santana.

O médico comemora os resultados do procedimento. “Ela não perdeu nada. O risco maior da cirurgia era ela ter uma lesão no cérebro, prejuízo à visão, mas não aconteceu nada disso. A sensação que a gente tem é que realmente vale a pena continuar tratando e acreditando na medicina. O mais gratificante é a gente poder devolver a paciente saudável, para poder conviver com a família dela.”

Susto
A jovem, que mora em São Sebastião e trabalha como agente de atendimento em um sindicato, conta que ninguém na família dela havia tido a doença antes. “Hoje eu valorizo mais a vida, até porque eu tive sorte, eu poderia ter perdido a visão.”

“Eu tinha que ter ido antes ao médico. Por não sentir dor, fiquei só enrolando, enrolando, aí levei esse susto enorme. Hoje sou outra pessoa. Antes eu não me preocupava com nada em questão de saúde, achava que nunca adoeceria, que nunca ia acontecer comigo, quase nunca ia ao médico. Mas agora é diferente. E a gente tem que se prevenir, né? Quanto antes você descobre um problema, mais fácil de cuidar”, afirma.

O otorrinolaringologista e cirurgião explica que a displasia fibrosa é provocada por uma alteração genética. Ela pode se desenvolver em qualquer osso do corpo, e por isso os portadores precisam fazer acompanhamento médico. No caso de Santana, de três em três meses. ”Não tem remédio contra e também não tem cura. É [uma síndrome] incomum, de progressão lenta e mais frequente em jovens”, diz. “No caso da Santana, não temos garantia de que ela não passará por isso de novo. A certeza que a gente é que ela não vai mais ter [tumor] naquela região.”

 

Matéria completa em aborlccf.org.br

Escreva um comentário