Novo aparelho auditivo fica ‘escondido’

13 de fevereiro de 2012

Médicos em São Paulo realizaram a primeira cirurgia no Brasil de implante de um novo tipo de aparelho auditivo, que fica totalmente dentro do ouvido do paciente, sem nenhuma parte externa. A técnica ajuda pessoas como a administradora Maria T. Medeiros, que precisa de ajuda de um aparelho para escutar, mas não conseguia se adaptar ao tradicional. “O aparelho externo machuca o ouvido”, disse a primeira paciente a receber o implante no Brasil.

Os dois aparelhos funcionam da mesma forma, amplificando o som que chega ao ouvido. Por isso, não serve para pessoas que têm surdez total – nesses casos, é indicada outra técnica: o implante coclear.

“A condição básica para o paciente fazer a cirurgia é se a pessoa já usou o aparelho externo e gostou do resultado”, explicou Iulo Baraúna, otorrinolaringologista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, em São Paulo. Ele foi o cirurgião responsável pelo procedimento.

Audição residual
A capacidade de audição de uma pessoa é medida pela intensidade mínima de som que ela consegue ouvir. O normal é começar a perceber o som a partir de 25 decibels.

Pessoas que ouvem apenas sons mais intensos que 25 decibels, mas menos que 40, têm “perda auditiva leve”, segundo os médicos. Se escutam apenas a partir de 60 decibels, têm “perda moderada”. A partir de 61 decibels, ela é considerada severa. Quem só ouve sons a partir de 80 decibels, não pode fazer a cirurgia — a perda de audição já é considerada grave demais.

“O paciente tem que ter, pelo menos, uma audição residual”, resumiu Baraúna. São pessoas com lesões nas células ciliadas internas, responsáveis por captar o som. Se as funções neurais do ouvido tiverem sido afetadas, o aparelho não é indicado.

Maria se encaixava no perfil necessário, com perda auditiva severa. A operação, feita em 9 de fevereiro, foi paga por seu plano de saúde. Se tivesse bancado do próprio bolso, ela teria gastado cerca de R$ 50 mil apenas com o aparelho, sem contar os gastos médicos.

A potiguar, que mora em São Paulo, trabalha com música, vendendo CD’s para o varejo. Além de ter que ouvir as músicas que vende, precisa se comunicar bem para fazer seus negócios, e estava com dificuldades.

Maria contou que o problema de audição piorou gradativamente ao longo dos últimos 12 anos. Além de ouvir muito baixo – colocava o volume da televisão em 80, em uma escala de 0 a 100 – sentia tonturas e dores de cabeça.

“Eu sofri muito, me sentia muito mal”, lembrou. “Muitas vezes, deixei de sair porque não entendia o que as pessoas diziam”. Além disso, ela disse que as brincadeiras, mesmo as de pessoas queridas, se tornaram um incômodo.

Raquel Stuchi, fonoaudióloga da equipe de Baraúna que atendeu Maria, afirmou que a paciente só ouvia a partir de 65 decibels. Essa é a intensidade geralmente usada nos diálogos entre pessoas que têm a audição normal – o que explica a dificuldade que a administradora tinha para conversar no dia-a-dia.

Conforto
Maria usava o aparelho externo, mas optou pela cirurgia porque o considerava desconfortável. “Tem que tirar para dormir e para tomar banho de mar ou piscina”, apontou, entre outros problemas.

Além disso, os especialistas destacam a questão estética, pois o aparelho externo destaca o problema auditivo da pessoa. “O nosso objetivo é que o aparelho seja aceito como os óculos, mas não é”, comparou Stochi.

O implante interno tem apenas 3,5 mm de espessura e até pode ser sentido com a mão, mas não é visível, porque fica debaixo da pele.

A administradora diz que já percebeu melhoras após a instalação do aparelho em seu ouvido esquerdo, mas o equipamento ainda nem está funcionando. Os médicos esperam cerca de 40 dias antes ligá-lo.

“A região fica muito sensível após a operação. O paciente sente dor, então é melhor esperar cicatrizar antes de pôr para funcionar”, explicou Baraúna.

Bateria
Além disso, o aparelho precisa de energia, e a recarga também afetaria a região delicada. A bateria é carregada por indução magnética. Um pequeno objeto, como um ímã, é carregado por uma tomada comum e depois, em contato com o ouvido, carrega o aparelho. Com cerca de meia hora, é feita a carga para todo um dia.

Também existe um controle remoto, no qual a pessoa pode desligar o aparelho por um tempo – na hora de dormir, por exemplo. “A Raquel [Stochi, fonoaudióloga] ainda brincou comigo: ‘você é privilegiada, pode escolher se quer ouvir ou não’”, contou Maria.

Após entre 15 e 20 anos, pelo desgaste natural, a bateria precisa ser trocada, o que exige uma nova cirurgia – bem mais simples que a de implantação do aparelho.

Quando o equipamento é colocado, é preciso posicionar os microfones e amplificadores nos lugares certos em relação aos ossos do ouvido. É um procedimento delicado, que, no caso de Maria, levou cinco horas e meia.

Na troca de bateria, Baraúna estima que a operação leve menos de uma hora. No entanto, essa cirurgia ainda não foi feita, já que a técnica é recente e os aparelhos implantados ainda funcionam bem.

Fonte: G1

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