O sono do brasileiro está cada vez pior. O resultado: Ansiedade, obesidade e depressão

6 de abril de 2016
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O corpo, cansado, se levanta vagarosamente e com menos energia. A cabeça está pesada, e parece pressionar tudo que tem embaixo. Os olhos ardem, o olhar é perdido, as olheiras se destacam. A pele se arrepia de frio, mesmo no verão. Prestar atenção no que ocorre ao redor é difícil, que dirá capturar e reter informações na memória. As pernas se arrastam. O dia se arrasta. Lá se vão mais 24 horas de desconforto e uma sensação de que nada é real. “Tudo é uma cópia de uma cópia de uma cópia…”

O corpo, cansado, se levanta vagarosamente e com menos energia. A cabeça está pesada, e parece pressionar tudo que tem embaixo. Os olhos ardem, o olhar é perdido, as olheiras se destacam. A pele se arrepia de frio, mesmo no verão. Prestar atenção no que ocorre ao redor é difícil, que dirá capturar e reter informações na memória. As pernas se arrastam. O dia se arrasta. Lá se vão mais 24 horas de desconforto e uma sensação de que nada é real. “Tudo é uma cópia de uma cópia de uma cópia…”

A noite rende o dia e está na hora de parar as atividades. Mas deitar na cama significa fazer listas:

Lista do que é preciso fazer. Lista do que se deixou de fazer. Lista dos problemas que vai se ter por ter feito (ou não) alguma coisa. Lista sobre as listas que se cria. O pensamento não para.

Daí vêm os ruídos. Muitos ruídos. Eles incomodam. Eles se destacam no silêncio. Eles se repetem, criando uma sensação desesperadora de permanência. Apagar a luz é dar entrada a mais uma noite de suplício. Ao longo dos anos, o corpo vai cobrando o preço e as faturas vêm na forma de aumento da ansiedade, mais irritabilidade, queda na concentração, obesidade, hipertensão, diabetes, doenças do coração e depressão.

Bem poderia ser pesadelo, mas é a realidade de um número cada vez maior de brasileiros. A relação entre eles e os respectivos travesseiros não anda muito boa. O bom e velho companheiro na hora de dormir tem se tornado um depósito de preocupações e estímulos.

Um total de 69% de brasileiros avaliou seu próprio sono como ruim e insatisfatório, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa e Orientação da Mente (IPOM), no fim de 2012. O sono do brasileiro tem sido invadido pelas preocupações com problemas familiares e financeiros (50%), estresse (40%) e a dificuldade de se desligar de televisão, celular e internet (28%).

A grande maioria (43%) dorme apenas de 3 a 5 horas, enquanto 36% dorme de 6 a 7 horas e somente 21% coloca em prática as recomendadas 8 horas ou mais.

Em 2007, dormir mal era uma queixa de 55% dos entrevistados, o que mostra um aumento de 25%. “A média de noites mal dormidas passou de duas ou três por semana para quatro ou cinco, o que pode causar grandes prejuízos para a saúde”, afirma Myriam Durante, psicoterapeuta holística e presidente do IPOM. O estudo foi realizado com cerca de 2 mil brasileiros, de 20 a 60 anos.

O grande problema de dormir mal são as consequências do dia seguinte: Cansaço, sonolência e queda de rendimento nas atividades foram relatados por 82% dos entrevistados que disseram não dormir bem. Pegar no sono é algo muito difícil para 25%. Acordar e não conseguir voltar a dormir é uma dificuldade para 18%. Alguns (36%) mencionaram que até conseguem pegar no sono de novo, mas despertam várias vezes.

Os efeitos negativos da falta de um sono profundo e reparador se arrastam pela vida do sujeito, que entra em um círculo vicioso e fica mais irritado e estressado, além de ter dificuldades para relaxar, e assim, conseguir dormir bem, descreve a psicoterapeuta.

Entre os jovens, a situação é ainda mais preocupante: 88% deles demonstraram ter um sono ruim ou insatisfatório, de acordo com uma pesquisa de 2015 do Ipom, em parceria com o Instituto Sou +Jovem.

O sono comprometido não é conversa para boi dormir. Quando não há qualidade nas noites dormidas, o metabolismo fica desorganizado e a síntese de alguns hormônios, prejudicada, o que favorece doenças graves como obesidade e depressão, explica à Unimed a neurologista Rosa Hasan, responsável pelo Laboratório do Sono do Hospital São Luiz.

Um estudo feito no Cleveland Clinic Sleep Disorders Center, em Ohio, nos Estados Unidos, com mais de 10 mil pesquisados, mostrou que pessoas que dormem menos que seis e mais de nove horas por dia sofrem uma piora na qualidade de vida e índices de depressão mais altos.

De acordo com dados da Associação de Depressão e Ansiedade dos EUA, quase três quartos dos adultos dizem que seus problemas de sono causados pelo estresse provocaram o aumento da ansiedade em suas vidas.

Enquanto dormimos, o organismo realiza funções como fortalecimento do sistema imunológico, secreção e liberação de hormônios, consolidação da memória, entre outras, explica um artigo da revista Espaço Aberto, da Universidade de São Paulo (USP). O problema é que dormir parece estar fora de moda. “Dormia-se 9 horas por noite no começo do século 20. Hoje, este tempo é cada vez menor”, explica à publicação o pneumologista e diretor do Laboratório do Sono do Instituto do Coração (InCor), Geraldo Lorenzi-Filho.

Dormir bem também possibilita SONHAR e permitir que um universo de “coisas” aparentemente sem significado tome conta, por um período, de nossa existência. Os benefícios dos sonhos são variados, explica o neurologista Leandro Teles, membro da Academia Brasileira de Neurologia, ao Zero Hora. “Do ponto de vista cognitivo, imagina-se que ele tenha funções de ajustes importantes no aprendizado. Esquecer aquilo que não importa, consolidar memórias relevantes, organizar os arquivos mentais, etc. Também é um exercício mental de criatividade, confrontação de dilemas conscientes e inconscientes, autoconhecimento.”

 

Sono > preocupação

 

Curiosamente, dormir não é problema para a população de Baependi, uma cidade no Sul de Minas com aproximadamente 19 mil habitantes. É um município tão “tranquilo e favorável” que a população dorme como se ainda estivesse no período pré-industrial: lá, as pessoas preferem começar o dia mais cedo e ir para a cama cerca de duas mais cedo, comparando com os moradores das zonas urbanas.

Esse comportamento rendeu à cidade um estudo da USP com a Universidade de Surrey, no Reino Unido, sobre o sono na modernidade. Depois de investigar a vida de moradores de Baependi, os autores do trabalho concluíram que a hora de deitar e levantar é influenciada por fatores ambientais e genéticos.

O sono problemático é uma realidade na vida do brasileiro, mas não significa que deva ser uma característica permanente. Algumas medidas podem ser tomadas, como essas daqui, sugeridas pelo Ministério da Saúde:

 

1. Tenha horários regulares para dormir e acordar.

2. Vá para a cama somente na hora de dormir.

3. Tenha um ambiente para dormir adequado: limpo, escuro, sem ruídos e confortável.

4. Não tome café, bebidas alcoólicas, refrigerantes ou determinados chás em horários próximos ao de dormir.

5. Não use medicamentos para dormir sem orientação médica.

6. Se tiver dormido pouco nas noites anteriores, evite dormir de dia.

7. Jante com moderação e em horário regular e adequado.

8. Não leve problemas para a cama.

9. Realize atividades relaxantes antes do sono.

10. Seja ativo físico e mentalmente.

 

Fonte: Brasilpost

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