Uso descuidado da tecnologia pode trazer problemas de saúde

1 de abril de 2013
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Você conhece alguém que não tem celular? Provavelmente, não. Também, não é para menos: calcula-se que existam sete bilhões de pessoas hoje no planeta, e nada menos que seis bilhões de celulares. Isso sem falar nos inúmeros gadgets: iPad, iPhone, smartphone e laptop, entre outros. Com tanta tecnologia cada vez mais acessível, é difícil não estar, de alguma forma, inserido na “rede”.

Mas e a saúde, como fica nesse contexto? São várias as teorias a respeito, desde suspeitas de que usar celular demais dá câncer até a constatação de que existe uma geração de viciados em internet – o que, obviamente, desencadearia no mínimo problemas sociais aos hiperconectados.

Em relação ao uso do celular, é importante considerar que seu emprego não para de crescer: o Brasil terminou o ano de 2010 com um total de 202,94 milhões de aparelhos, o que representa um avanço de 16,66% em relação a 2009, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

“Ao longo do tempo, o número de chamadas por dia e a duração de cada chamada também vem aumentando”, salienta Maurício Mandel, neurocirurgião formado pela Universidade de São Paulo, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN).

Os celulares emitem energia de radiofrequência (ondas de rádio), uma forma de radiação eletromagnética. Tal radiação pode ser de dois tipos, ionizante (raios-X e raios cósmicos) e não ionizante (radiofrequência). “O celular emite este segundo tipo e, até agora, não há evidência de que a radiação não-ionizante leve à doença. O primeiro tipo, ao contrário, é conhecido como indutor do câncer. Tanto que pessoas que trabalham com raio-X – técnicos, médicos, enfermeiras – fazem testes regularmente para ver se a exposição provocou a formação de tumores”, diz o especialista.

MITOS E VERDADES

Usar muito o celular provoca câncer.
INCONCLUSIVO: embora vários estudos tenham tentado estabelecer uma relação entre o emprego do aparelho e o aparecimento de tumor, a verdade é que tal associação não foi comprovada. Pesquisa recente do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos, publicado em junho de 2012, por exemplo, não chegou a nenhuma conclusão sobre a influência dos celulares à saúde. “Até agora, não há evidências de pesquisas em células, animais ou seres humanos que levem à conclusão de que a energia de radiofrequência, emitida pelo celular, pode causar câncer”, sustenta o neurocirugião Maurício Mendel. Para que a doença se desenvolva, é necessário que ocorram danos no DNA, malefício que este tipo de energia não provoca, ao contrário da ionizante dos raios-X. “A radiofrequência, por ser não-ionizante, promove somente produção de calor nos tecidos, sem causar quebra das moléculas de DNA”, completa Antônio De Salles, neurocirurgião e neurocientista, com especialização em neurocirurgia funcional pela Universidade de Umea (Suécia), e lesão na cabeça pela Faculdade de Medicina de Virgínia (EUA)

Apesar de não haver evidências da relação entre celular e câncer, as investigações continuam.
VERDADE: um grande estudo prospectivo de uso do telefone celular, e seus possíveis efeitos em longo prazo sobre a saúde, foi lançado na Europa em março de 2010. Conhecido como Cosmos, vai matricular cerca de 250 mil usuários com idade entre 18 anos ou mais, e segui-los por 20 a 30 anos. Os participantes irão preencher um questionário sobre saúde, estilo de vida e uso do celular atual e passado. “Também está em andamento o Mobi-kids, pesquisa internacional que investiga a relação entre tecnologias da comunicação, fatores ambientais e câncer no cérebro de jovens. Fundado pela União Europeia, envolve grupos de pesquisas em 13 países e avaliará, durante cinco anos, cerca de 2 mil participantes entre 10 e 24 anos”, informa o neurocirurgião Maurício Mandel

Na relação entre celular e câncer, as crianças teriam mais chance de sofrer com a doença do que os adultos.
VERDADE: em teoria, elas têm mais potencial de risco porque seu sistema nervoso ainda está em desenvolvimento e, portanto, mais vulnerável a fatores que podem desencadear disfunções. “Além disso, suas cabeças são menores que a dos adultos, o que aumenta a exposição proporcionalmente ao campo de radiação emitida pelos aparelhos”, diz o neurocirugião Maurício Mendel. Há que se considerar, ainda, que os pequenos têm mais anos pela frente para usar estes gadgets

Mesmo sem estudos conclusivos sobre a relação entre celular e câncer, as pessoas deveriam usar menos o aparelho.
VERDADE: até porque várias pesquisas ainda estão em andamento. “Exposição sem necessidade e excessivamente prolongada não é aconselhável. Medidas que afastem o celular do contato direto com a pele são aconselhados para quem o emprega muito. E, como é uma tecnologia relativamente nova, sugere-se que crianças não o usem à toa”, adverte o neurocientista Antônio De Salles. O neurocirurgião Maurício Mendel recomenda reservar a utilização para conversas mais curtas ou momentos em que o telefone fixo não está disponível; e lançar mão de um dispositivo “mãos-livres” (hands-free), que distancia o aparelho da cabeça do usuário

O ideal é não dormir com o celular perto da cabeça.
PARCIALMENTE VERDADE: “Não existe comprovação real sobre a questão. Mas, atualmente, existe a recomendação, por algumas agências de saúde, para evitar o uso excessivo do celular”, diz o neurocirurgião Maurício Mandel. “O ideal é impedir a emissão contínua de radiofrequência. Portanto, a exposição ao celular, quando este não está sendo usado, é desnecessária e não aconselhável”, completa o neurocientista e neurocirurgião Antônio De Salles

Usar o laptop no colo prejudica a fertilidade masculina.
VERDADE: “Estudos sugerem que a energia WI-FI emitida pelo computador portátil é danosa à mobilidade e integridade dos espermatozoides. É sabido, também, que a temperatura escrotal elevada leva à queda da motilidade e longevidade dos mesmos, portanto diminui a fertilidade masculina. Longo período sentado com o computador produzindo calor, bem como emitindo energia eletromagnética, não é aconselhável ao homem”, defende o neurocientista Antônio De Salles

Ficar perto do micro-ondas, enquanto o mesmo está funcionando, faz mal à saúde.
MITO: este eletrodoméstico emite radiação não-ionizante. “E, semelhante ao que acontece com o uso do telefone celular, não existe evidência segura de que sua utilização seja prejudicial à saúde”, diz o neurocientista e neurocirurgião Antônio De Salles. Os fornos atuais têm seu interior revestido de metal, que reflete as micro-ondas, conservando-as em seu interior. Ao atingir os alimentos, elas se transformam em calor e praticamente deixam de existir. “A energia produzida, proveniente da radiofrequência, apenas gera calor, não promovendo alterações no corpo humano”, completa o neurocirurgião Maurício Mandel

A comida esquentada no micro-ondas traz substâncias que podem provocar tumores.
MITO: conforme explicam os neurocirurgiões Maurício Mandel e Antônio De Salles, não há fundamentos científicos para comprovar a afirmação. A agência federal de vigilância sanitária dos Estados Unidos, Food and Drug Administration (FDA), sustenta que os fornos usados de acordo com as instruções dos fabricantes são seguros. De qualquer forma, há suspeita de que os nutrientes se perdem com este tipo de aquecimento: alguns alimentos apresentam menos vitaminas, por exemplo. O ideal, então, é não deixar os itens muito quentes, pelando. Outro problema atribuído ao equipamento diz respeito aos recipientes utilizados: alguns tipos de plástico liberariam substâncias carcinogênicas, como as dioxinas, quando submetidas ao aquecimento no aparelho. “Por isso, vale usar vasilhas de vidro, preferencialmente”, diz Mandel

A tela do computador prejudica a visão.
PARCIALMENTE VERDADE: como a maioria dos aparelhos elétricos, os computadores emitem radiação ionizante e não-ionizante. “Porém, a quantidade é tão baixa que não existe prova de que tenha efeito danoso sobre a visão”, pondera o neurocirurgião Antônio De Salles. “Ficar horas em frente à tela apenas provocará o ressecamento dos olhos, já que a frequência de piscamento diminui”, completa o neurocirurgião Maurício Mandel. O uso continuado da máquina, entretanto, embora não prejudique a visão, tem trazido preocupação em relação ao conforto visual dos trabalhadores. “O problema são as horas extensivas que a pessoa passa forçando a visão. É recomendável fazer intervalos de descanso”, recomenda Leôncio Queiroz Neto, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Isso se torna ainda mais necessário no caso das crianças: o uso exagerado do computador pode levá-las a desenvolver miopia
Crianças que usam computador em demasia ficam míopes.
VERDADE: não por acaso a miopia dobrou nos últimos anos, segundo levantamento da OMS (Organização Mundial da Saúde). Em adultos, o uso intensivo do computador causa desconforto visual, atrapalha o rendimento profissional ou acadêmico, mas, geralmente, se trata de um mal passageiro. Já em crianças, o que acontece é diferente. “Coordenei um estudo em Campinas com 360 pacientes, entre nove e 13 anos, que chegavam a ficar seis horas ininterruptas usando computador ou videogame. Resultado: 21% apresentaram miopia, quando o normal seria no máximo 12%, segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia. O problema é que nunca a população começou a usar a visão de perto tão cedo”, insiste o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto
Fonte: UOL

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