Vídeo de ex-bailarina com Alzheimer mostra resiliência da mente humana, diz neurocientista Miguel Nicolelis
12 de novembro de 2020Viral dos últimos dias, o vídeo de uma idosa espanhola que rememora os movimentos do balé “O lago dos cisnes”, apesar de debilitada pela doença de Alzheimer, emocionou timelines e também deu uma demonstração do poder de armazenamento e ativação do cérebro, mesmo quando sob processo degenerativo.
“Claramente a música despertou, liberou programas de coordenação motora que ela tinha armazenado ao longo de uma vida toda. Você vê a beleza dos movimentos dela, a coordenação, a precisão”, diz Miguel Nicolelis, um dos nomes mais destacados da neurociência e que lidera pesquisas na Universidade de Duke, em Durham (Estados Unidos).
A associação espanhola Música para Despertar divulgou no fim de outubro um vídeo em que a ex-bailarina Marta C. González escuta em fones trechos da música composta por Tchaikovski e revive o gestual da coreografia.
A entidade usa música para melhorar a qualidade de vida de pacientes com Alzheimer. Terapias musicais estão se disseminando como tratamento para pacientes com distúrbios cognitivos graves.
Inicialmente foi divulgado que Marta havia sido a primeira-bailarina do Balé de Nova York nos anos 1960. A associação publicou um post nesta quarta (11) em que esclarece que a bailarina atuava por sua própria companhia de dança. Mas, de fato, Marta se apresentou aos nova-iorquinos à época.
A espanhola era mais conhecida como Marta Cinta e se formou em Cuba, na escola do coreógrafo Nikolai Yavorsky, russo radicado na ilha.
Nas imagens de uma apresentação de “O lago dos cisnes”, em que o vídeo compara a lembrança da coreografia com o movimento no palco, está a renomada bailarina russa Uliana Lopatkina – e não a jovem Marta C. González, como chegou a ser relatado, afirmou a associação.
O vídeo foi gravado em uma casa de repouso de Valência em 2019, meses antes da morte da espanhola. Atores como Antonio Banderas, Jennifer Garner e Ian McKellen compartilharam e ajudaram a viralizar o momento.
É mais do que ciência
Nicolelis diz que o vídeo chama a atenção mais pelo aspecto humano do que científico. Lembrou o neurocientista do processo vivido pela avó (“intelectual, artista e professora”) de declínio cognitivo.
“Me emocionei profundamente porque eu lembrei da minha avó. Ela foi perdendo a capacidade cognitiva, mas ela, pianista, sentava no piano e ainda conseguia tocar. Para mim foi muito tocante porque lembrou de cenas e de histórias familiares.”
Fonte: G1